O que são?
As espondiloartropatias juvenis são um grupo de doenças inflamatórias crónicas das articulações (artrite) e das ligações dos tendões a determinados ossos (entesite), afectando predominantemente os membros inferiores e, em alguns casos as articulações pélvicas e as articulações da coluna (sacro-ilíite – dor na zona das nádegas; e espondilite – dor lombar).
Em alguns casos o início dos sintomas é desencadeado por infecções bacterianas entéricas (gastrointestinais) ou urogenitais (artrite reactiva). As espondiloartropatias juvenis são significativamente mais comuns em pessoas com o marcador genético HLA-B27, que predispõe os indivíduos (através de mecanismos ainda desconhecidos) para a doença.
A prevalência de algumas características clínicas no início e a gravidade ao longo do curso da doença podem ser diferentes nas crianças e nos adultos. No entanto, as espondiloartropatias juvenis podem assemelhar-se ao início das espondiloartropatias nos adultos.
Os doentes com artrite idiopática juvenil classificados em entesite relacionada com artrite (consultar o capítulo da AIJ) encontram-se incluídos no grupo de espondiloartropatias juvenis.
Que doenças são chamadas espondiloartropatias juvenis?
Apesar de alguma controvérsia, as espondiloartropatias juvenis incluem as mesmas doenças que pertencem ao grupo das espondiloartropatias nos adultos: espondilite anquilosante, artrite reactiva (e síndroma de Reiter), artrite psoriática (do tipo espondiloartropatia) e artrite associada a doença inflamatória intestinal (do tipo espondiloartropatia). Algumas crianças que não possuem todos os critérios de diagnóstico da doença que acima são apresentados, podem sofrer das chamadas espondiloartropatias indiferenciadas.
Outras doenças, particularmente a síndroma de entesopatia e a artropatia seronegativas (EAS) e a entesite relacionada com a artrite são espondiloartropatias juvenis.
É uma doença vulgar?
As espondiloartropatias são uma das formas mais frequentes de artrite crónica na infância. Atingem cerca de 30 % das crianças com artrite crónica.
As espondiloartropatias surgem mais nos rapazes, começando a doença fundamentalmente entre os 10 e os 15 anos de idade.
Dado que uma grande parte dos doentes possui um factor de predisposição genética (HLA-B27), a frequência das espondiloartropatias juvenis e nos adultos em termos da população geral e até mesmo em determinadas famílias (história familiar) depende da frequência deste marcador na população normal.
Quais são as causas da doença?
A causa e os mecanismos precisos que provocam as espondiloartropatias juvenis são desconhecidos. Como em outras formas de artrite crónica na infância, os mecanismos que podem ser responsáveis pela doença incluem diversos componentes do sistema imunitário.
As espondiloartropatias estão associadas a outros tipos de inflamação crónica, por exemplo, do intestino, do tracto genito-urinário ou da pele.
As infecções causadas por alguns micro-organismos (ex: salmonella, shigella, yersinia, campilobacter e clamídia) podem ter algum papel no desencadear da artrite em algumas crianças (ex: artrite reactiva).
É hereditária?
Uma grande parte dos doentes com uma espondiloartropatia juvenil possui em si o marcador genético HLA B27. Este facto não implica que todas as pessoas com este factor genético tenham espondiloartropatia.
Por exemplo, se a frequência do HLA B27 na população for de 10 %, apenas 1 % desta população terá a doença. Se mais alguém na família próxima for afectado por espondiloartropatia, a presença de HLA B27 aumenta o risco para cerca de 25 % em como uma pessoa nessa família venha a desenvolver uma espondiloartropatia.
De facto, as espondiloartropatias existem com maior frequência em membros da família da criança afectada do que em famílias de crianças não afectadas pela doença.
Deste modo, os factores genéticos e, em particular, o HLA B27, têm a ver com a susceptibilidade à doença. Não são suficientes para o desenvolvimento da doença.
O acordo existente na comunidade científica é de que estas doenças se devem a factores múltiplos, o que implica que resultam de uma combinação de predisposição genética com exposição a factores ambientais (provavelmente infecções) ainda desconhecidos.
Existe prevenção?
A prevenção não é possível, uma vez que as causas doença são desconhecidas. Não há utilidade na realização de exames aos irmãos da criança em busca do factor HLA B27 quando estes não apresentam sintomas que possam ser ligados a uma espondiloartropatia.
É contagioso?
As espondiloartropatias não são doenças contagiosas.
Quais são os principais sintomas?
As espondiloartropatias juvenis têm características clínicas comuns:
Artrite:
1) Os sintomas mais comuns incluem dor e inchaço articular, bem como mobilidade articular limitada.
2) Muitas crianças têm oligoartrite dos membros inferiores. Oligoartrite significa que a doença envolve 4 ou menos articulações. As crianças com doença crónica podem ter poliartrite. Poliartrite significa que o envolvimento articular é mais alargado e que afecta 5 ou mais articulações.
3) A artrite envolve fundamentalmente as articulações dos membros inferiores: os joelhos, os tornozelos, o tarso (“peito do pé”) e as ancas. Com menor frequência, a artrite envolve as pequenas articulações do pé.
4) Algumas crianças podem ter artrite em qualquer articulação dos membros superiores, em especial dos ombros.
Entesite:
A entesite, a inflamação da entese (o local em que um tendão ou ligamento se liga ao osso) é muito frequente nas crianças com espondiloartropatias.
As enteses geralmente afectadas estão localizadas no calcanhar, no tarso e em volta da rótula. Os sintomas mais comuns são, entre outros, dor no calcanhar, inchaço e dor no tarso e dor na rótula.
A inflamação crónica da entese pode levar ao aparecimento de esporões ósseos (excesso de crescimento ósseo). Estes esporões surgem especialmente nos calcanhares, provocando dor.
Sacro-Iliite
É a inflamação da articulação sacro-ilíaca, que fica na parte de trás da pélvis. De início é raro de aparecer, ocorrendo com mais frequência entre 5 a 10 anos depois do aparecimento da artrite.
Entre os sintomas mais comuns incluem-se dores alternadas na zona das nádegas .
Espondilite
O envolvimento da coluna vertebral é muito raro no início da doença, podendo ocorrer posteriormente no decurso da doença em alguns doentes.
Entre os sintomas mais comuns incluem-se dores na parte inferior das costas, rigidez matinal e redução da mobilidade.
Às dores na parte inferior das costas juntam-se com frequência dores no pescoço e no peito.
As doenças prolongadas da coluna podem levar à formação de pontes entre os ossos da coluna ou vértebras (“coluna em tronco de bambu”).
Esta circunstância dá-se, no entanto, apenas em alguns doentes após uma grande duração da doença. Portanto, esta característica quase nunca se encontra presente em crianças.
Envolvimento ocular
A uveíte anterior aguda é uma inflamação da íris do olho. Não é frequente. O olho fica muito vermelho e com dores. É necessário controlo imediato pelo oftalmologista.
Envolvimento cutâneo
Um pequeno subgrupo de crianças com espondiloartropatia pode ter psoríase. A psoríase é uma doença crónica de pele, com zonas de pele a escamar que localizadas fundamentalmente nos cotovelos e joelhos. Esta doença de pele pode surgir anos antes da artrite.
Em outros doentes, a artrite pode já existir antes de acontecer uma primeira ocorrência de psoríase.
Envolvimento intestinal
Algumas crianças com doenças inflamatórias intestinais podem vir a ter uma espondiloartropatia.
Doença intestinal inflamatória (DII)
Termo utilizado para designar inflamação intestinal crónica de origem desconhecida. Chama-se a estas doenças “Doença de Crohn” ou “Colite Ulcerosa”.
A doença é igual em todas as crianças?
O âmbito é abrangente. Enquanto algumas crianças têm uma doença suave e de duração curta, outras têm uma doença grave, de longa duração e incapacitante.
A doença nas crianças é diferente da que os adultos têm?
As espondiloartropatias juvenis são diferentes das espondiloartropatias nos adultos em alguns aspectos.
1) as articulações periféricas (membros) são afectadas com muito maior frequência no início da doença , em contraste com o envolvimento axial (coluna) mais frequente nos adultos.
2) nas crianças, a anca é afectada mais frequentemente.
Como é que é diagnosticada?
Os médicos dizem que é uma espondiloartropatia juvenil se o início da doença acontecer antes dos 16 anos de idade, se a artrite se mantiver durante mais de 6 semanas e se as características se enquadrarem no padrão clínico acima descrito (consulte a definição e os sintomas).
O diagnóstico de espondiloartropatias específicas (p. ex.: espondilite anquilosante, artrite reactiva, etc.) baseia-se em características clínicas e radiológicas específicas.
É evidente que estes doentes devem ser tratados e acompanhados por um reumatologista pediátrico.
Fazer exames é importante?
O marcador celular HLA-B27, que é positivo em 80-85% dos doentes com espondiloartropatias juvenis, é útil para orientar o diagnóstico. A sua frequência na população saudável em geral é muito inferior (5–12 %, dependendo da região).
Assim sendo, não é a presença do HLA-B27 em si mesmo, mas a sua associação com os sinais e sintomas característicos das espondiloartropatias que tem relevância.
Análises como a velocidade de sedimentação de eritrócitos (VS) ou a Proteína C-reactiva (PC-R) dão informações sobre a inflamação em geral e, portanto, de modo indirecto sobre a actividade da doença.
São úteis na gestão da doença que, contudo, se baseia muito mais em manifestações clínicas do que em exames laboratoriais.
As análises são também utilizadas para monitorizar possíveis efeitos secundários do tratamento (contagem das células sanguíneas, função hepática e renal).
Os exames radiológicos são úteis para acompanhar a evolução da doença e para avaliar os danos articulares provocados pela doença.
A tomografia computadorizada (TAC) e a ressonância magnética (RNM) podem ser úteis, em especial em crianças, para avaliar o envolvimento das articulações sacro-ilíacas.
Pode ser tratada /curada?
Não existe nenhum tratamento curativo, uma vez que as causas das espondiloartropatias são desconhecidas. No entanto, a terapia pode ser muito útil para controlar a doença e impedir lesões.
Quais são os tratamentos?
O tratamento baseia-se fundamentalmente na utilização de medicamentos em conjunto com tratamentos de fisioterapia/reabilitação que preservam a função articular e contribuem para prevenir a deformação.
1) Anti-inflamatórios não esteróides (AINEs);
2) Injecções articulares. São utilizadas quando uma ou poucas articulações estão envolvidas e quando a persistência da contractura articular pode causar deformações. O medicamento injectado é um preparado esteróide que age a longo prazo;
3) Os corticosteróides desempenham um papel na gestão a curto prazo dos doentes mais graves. Os esteróides tópicos (gotas oftálmicas) são utilizados no tratamento da uveíte anterior aguda.
Em casos mais graves, pode ser necessário administrar injecções de esteróides peribulbares ou de esteróides sistémicos;
4) Cirurgia ortopédica está principalmente indicada para casos de substituição articular por prótese em caso de danos articulares graves, em particular na anca;
5) A fisioterapia é um componente essencial do tratamento. Tem de ser iniciada precocemente e deve realizar-se de forma rotineira de modo a manter a amplitude do movimento, o trofismo e a força muscular e para impedir, limitar ou corrigir deformações articulares. Além disso, se o envolvimento axial é proeminente, a coluna tem de ser mobilizada e é preciso realizar exercícios respiratórios.
Quais são os efeitos secundários dos medicamentos?
Os medicamentos utilizados no tratamento de espondiloartropatias juvenis em geral são bem tolerados.
A intolerância gástrica, que é o efeito secundário mais frequente dos AINEs (que devem, por isso, ser tomados com alguma comida), é menos comum nas crianças que nos adultos. Os AINEs podem provocar um aumento dos níveis de algumas enzimas hepáticas no sangue , mas trata-se de uma circunstância rara com medicamentos que não seja a aspirina.
A utilização de esteróides a longo prazo em doses altas encontra-se associada a diversos efeitos secundários importantes. Entre estes incluem-se o enfezamento e a osteoporose.
Os esteróides em doses elevadas podem provocar um aumento acentuado de apetite, o que, por sua vez, pode levar a obesidade acentuada.
É, assim, importante ensinar as crianças a comer alimentos que possam satisfazer o apetite sem aumentar o consumo de calorias.
Quanto tempo deve durar o tratamento?
Deve durar enquanto os sintomas e a actividade da doença persistirem. A duração da doença é imprevisível.
Em alguns doentes, a artrite reage muito bem aos AINEs. Nestes doentes, o tratamento pode ser interrompido rapidamente, no espaço de meses.
Em outros doentes, com um curso mais prolongado ou agressivo da doença, é necessário tomar os medicamentos durante anos.
Então, a cessação completa do tratamento é apenas tida em consideração após remissão prolongada e completa da doença.
E quanto a terapias não convencionais/complementares?
Não existem provas de que qualquer terapia não convencional tenha efeito sobre as espondiloartropatias juvenis.
Por quanto tempo durará a doença?
O curso da doença pode ser diferente de doente para doente.
Qual a evolução da doença a longo prazo (prognóstico)?
Em alguns doentes a artrite desaparece rapidamente, necessitando de pouco tratamento num espaço de meses.
Em outros doentes, caracteriza-se por remissão periódica e recorrências. Por fim, em outros doentes, a artrite pode seguir um curso sem remissões.
Na grande maioria dos doentes, no início da doença, os sintomas restringem-se às articulações periféricas e à entese (tendões).
Com a progressão da doença, alguns dos doentes poderão ter envolvimento das articulações sacro-ilíacas e da coluna. Estes últimos doentes e aqueles que sofram de artrite periférica persistente têm um maior risco de lesões articulares na idade adulta.
No início da doença é impossível prever o resultado a longo prazo.
Continua...
As espondiloartropatias juvenis são um grupo de doenças inflamatórias crónicas das articulações (artrite) e das ligações dos tendões a determinados ossos (entesite), afectando predominantemente os membros inferiores e, em alguns casos as articulações pélvicas e as articulações da coluna (sacro-ilíite – dor na zona das nádegas; e espondilite – dor lombar).
Em alguns casos o início dos sintomas é desencadeado por infecções bacterianas entéricas (gastrointestinais) ou urogenitais (artrite reactiva). As espondiloartropatias juvenis são significativamente mais comuns em pessoas com o marcador genético HLA-B27, que predispõe os indivíduos (através de mecanismos ainda desconhecidos) para a doença.
A prevalência de algumas características clínicas no início e a gravidade ao longo do curso da doença podem ser diferentes nas crianças e nos adultos. No entanto, as espondiloartropatias juvenis podem assemelhar-se ao início das espondiloartropatias nos adultos.
Os doentes com artrite idiopática juvenil classificados em entesite relacionada com artrite (consultar o capítulo da AIJ) encontram-se incluídos no grupo de espondiloartropatias juvenis.
Que doenças são chamadas espondiloartropatias juvenis?
Apesar de alguma controvérsia, as espondiloartropatias juvenis incluem as mesmas doenças que pertencem ao grupo das espondiloartropatias nos adultos: espondilite anquilosante, artrite reactiva (e síndroma de Reiter), artrite psoriática (do tipo espondiloartropatia) e artrite associada a doença inflamatória intestinal (do tipo espondiloartropatia). Algumas crianças que não possuem todos os critérios de diagnóstico da doença que acima são apresentados, podem sofrer das chamadas espondiloartropatias indiferenciadas.
Outras doenças, particularmente a síndroma de entesopatia e a artropatia seronegativas (EAS) e a entesite relacionada com a artrite são espondiloartropatias juvenis.
É uma doença vulgar?
As espondiloartropatias são uma das formas mais frequentes de artrite crónica na infância. Atingem cerca de 30 % das crianças com artrite crónica.
As espondiloartropatias surgem mais nos rapazes, começando a doença fundamentalmente entre os 10 e os 15 anos de idade.
Dado que uma grande parte dos doentes possui um factor de predisposição genética (HLA-B27), a frequência das espondiloartropatias juvenis e nos adultos em termos da população geral e até mesmo em determinadas famílias (história familiar) depende da frequência deste marcador na população normal.
Quais são as causas da doença?
A causa e os mecanismos precisos que provocam as espondiloartropatias juvenis são desconhecidos. Como em outras formas de artrite crónica na infância, os mecanismos que podem ser responsáveis pela doença incluem diversos componentes do sistema imunitário.
As espondiloartropatias estão associadas a outros tipos de inflamação crónica, por exemplo, do intestino, do tracto genito-urinário ou da pele.
As infecções causadas por alguns micro-organismos (ex: salmonella, shigella, yersinia, campilobacter e clamídia) podem ter algum papel no desencadear da artrite em algumas crianças (ex: artrite reactiva).
É hereditária?
Uma grande parte dos doentes com uma espondiloartropatia juvenil possui em si o marcador genético HLA B27. Este facto não implica que todas as pessoas com este factor genético tenham espondiloartropatia.
Por exemplo, se a frequência do HLA B27 na população for de 10 %, apenas 1 % desta população terá a doença. Se mais alguém na família próxima for afectado por espondiloartropatia, a presença de HLA B27 aumenta o risco para cerca de 25 % em como uma pessoa nessa família venha a desenvolver uma espondiloartropatia.
De facto, as espondiloartropatias existem com maior frequência em membros da família da criança afectada do que em famílias de crianças não afectadas pela doença.
Deste modo, os factores genéticos e, em particular, o HLA B27, têm a ver com a susceptibilidade à doença. Não são suficientes para o desenvolvimento da doença.
O acordo existente na comunidade científica é de que estas doenças se devem a factores múltiplos, o que implica que resultam de uma combinação de predisposição genética com exposição a factores ambientais (provavelmente infecções) ainda desconhecidos.
Existe prevenção?
A prevenção não é possível, uma vez que as causas doença são desconhecidas. Não há utilidade na realização de exames aos irmãos da criança em busca do factor HLA B27 quando estes não apresentam sintomas que possam ser ligados a uma espondiloartropatia.
É contagioso?
As espondiloartropatias não são doenças contagiosas.
Quais são os principais sintomas?
As espondiloartropatias juvenis têm características clínicas comuns:
Artrite:
1) Os sintomas mais comuns incluem dor e inchaço articular, bem como mobilidade articular limitada.
2) Muitas crianças têm oligoartrite dos membros inferiores. Oligoartrite significa que a doença envolve 4 ou menos articulações. As crianças com doença crónica podem ter poliartrite. Poliartrite significa que o envolvimento articular é mais alargado e que afecta 5 ou mais articulações.
3) A artrite envolve fundamentalmente as articulações dos membros inferiores: os joelhos, os tornozelos, o tarso (“peito do pé”) e as ancas. Com menor frequência, a artrite envolve as pequenas articulações do pé.
4) Algumas crianças podem ter artrite em qualquer articulação dos membros superiores, em especial dos ombros.
Entesite:
A entesite, a inflamação da entese (o local em que um tendão ou ligamento se liga ao osso) é muito frequente nas crianças com espondiloartropatias.
As enteses geralmente afectadas estão localizadas no calcanhar, no tarso e em volta da rótula. Os sintomas mais comuns são, entre outros, dor no calcanhar, inchaço e dor no tarso e dor na rótula.
A inflamação crónica da entese pode levar ao aparecimento de esporões ósseos (excesso de crescimento ósseo). Estes esporões surgem especialmente nos calcanhares, provocando dor.
Sacro-Iliite
É a inflamação da articulação sacro-ilíaca, que fica na parte de trás da pélvis. De início é raro de aparecer, ocorrendo com mais frequência entre 5 a 10 anos depois do aparecimento da artrite.
Entre os sintomas mais comuns incluem-se dores alternadas na zona das nádegas .
Espondilite
O envolvimento da coluna vertebral é muito raro no início da doença, podendo ocorrer posteriormente no decurso da doença em alguns doentes.
Entre os sintomas mais comuns incluem-se dores na parte inferior das costas, rigidez matinal e redução da mobilidade.
Às dores na parte inferior das costas juntam-se com frequência dores no pescoço e no peito.
As doenças prolongadas da coluna podem levar à formação de pontes entre os ossos da coluna ou vértebras (“coluna em tronco de bambu”).
Esta circunstância dá-se, no entanto, apenas em alguns doentes após uma grande duração da doença. Portanto, esta característica quase nunca se encontra presente em crianças.
Envolvimento ocular
A uveíte anterior aguda é uma inflamação da íris do olho. Não é frequente. O olho fica muito vermelho e com dores. É necessário controlo imediato pelo oftalmologista.
Envolvimento cutâneo
Um pequeno subgrupo de crianças com espondiloartropatia pode ter psoríase. A psoríase é uma doença crónica de pele, com zonas de pele a escamar que localizadas fundamentalmente nos cotovelos e joelhos. Esta doença de pele pode surgir anos antes da artrite.
Em outros doentes, a artrite pode já existir antes de acontecer uma primeira ocorrência de psoríase.
Envolvimento intestinal
Algumas crianças com doenças inflamatórias intestinais podem vir a ter uma espondiloartropatia.
Doença intestinal inflamatória (DII)
Termo utilizado para designar inflamação intestinal crónica de origem desconhecida. Chama-se a estas doenças “Doença de Crohn” ou “Colite Ulcerosa”.
A doença é igual em todas as crianças?
O âmbito é abrangente. Enquanto algumas crianças têm uma doença suave e de duração curta, outras têm uma doença grave, de longa duração e incapacitante.
A doença nas crianças é diferente da que os adultos têm?
As espondiloartropatias juvenis são diferentes das espondiloartropatias nos adultos em alguns aspectos.
1) as articulações periféricas (membros) são afectadas com muito maior frequência no início da doença , em contraste com o envolvimento axial (coluna) mais frequente nos adultos.
2) nas crianças, a anca é afectada mais frequentemente.
Como é que é diagnosticada?
Os médicos dizem que é uma espondiloartropatia juvenil se o início da doença acontecer antes dos 16 anos de idade, se a artrite se mantiver durante mais de 6 semanas e se as características se enquadrarem no padrão clínico acima descrito (consulte a definição e os sintomas).
O diagnóstico de espondiloartropatias específicas (p. ex.: espondilite anquilosante, artrite reactiva, etc.) baseia-se em características clínicas e radiológicas específicas.
É evidente que estes doentes devem ser tratados e acompanhados por um reumatologista pediátrico.
Fazer exames é importante?
O marcador celular HLA-B27, que é positivo em 80-85% dos doentes com espondiloartropatias juvenis, é útil para orientar o diagnóstico. A sua frequência na população saudável em geral é muito inferior (5–12 %, dependendo da região).
Assim sendo, não é a presença do HLA-B27 em si mesmo, mas a sua associação com os sinais e sintomas característicos das espondiloartropatias que tem relevância.
Análises como a velocidade de sedimentação de eritrócitos (VS) ou a Proteína C-reactiva (PC-R) dão informações sobre a inflamação em geral e, portanto, de modo indirecto sobre a actividade da doença.
São úteis na gestão da doença que, contudo, se baseia muito mais em manifestações clínicas do que em exames laboratoriais.
As análises são também utilizadas para monitorizar possíveis efeitos secundários do tratamento (contagem das células sanguíneas, função hepática e renal).
Os exames radiológicos são úteis para acompanhar a evolução da doença e para avaliar os danos articulares provocados pela doença.
A tomografia computadorizada (TAC) e a ressonância magnética (RNM) podem ser úteis, em especial em crianças, para avaliar o envolvimento das articulações sacro-ilíacas.
Pode ser tratada /curada?
Não existe nenhum tratamento curativo, uma vez que as causas das espondiloartropatias são desconhecidas. No entanto, a terapia pode ser muito útil para controlar a doença e impedir lesões.
Quais são os tratamentos?
O tratamento baseia-se fundamentalmente na utilização de medicamentos em conjunto com tratamentos de fisioterapia/reabilitação que preservam a função articular e contribuem para prevenir a deformação.
1) Anti-inflamatórios não esteróides (AINEs);
2) Injecções articulares. São utilizadas quando uma ou poucas articulações estão envolvidas e quando a persistência da contractura articular pode causar deformações. O medicamento injectado é um preparado esteróide que age a longo prazo;
3) Os corticosteróides desempenham um papel na gestão a curto prazo dos doentes mais graves. Os esteróides tópicos (gotas oftálmicas) são utilizados no tratamento da uveíte anterior aguda.
Em casos mais graves, pode ser necessário administrar injecções de esteróides peribulbares ou de esteróides sistémicos;
4) Cirurgia ortopédica está principalmente indicada para casos de substituição articular por prótese em caso de danos articulares graves, em particular na anca;
5) A fisioterapia é um componente essencial do tratamento. Tem de ser iniciada precocemente e deve realizar-se de forma rotineira de modo a manter a amplitude do movimento, o trofismo e a força muscular e para impedir, limitar ou corrigir deformações articulares. Além disso, se o envolvimento axial é proeminente, a coluna tem de ser mobilizada e é preciso realizar exercícios respiratórios.
Quais são os efeitos secundários dos medicamentos?
Os medicamentos utilizados no tratamento de espondiloartropatias juvenis em geral são bem tolerados.
A intolerância gástrica, que é o efeito secundário mais frequente dos AINEs (que devem, por isso, ser tomados com alguma comida), é menos comum nas crianças que nos adultos. Os AINEs podem provocar um aumento dos níveis de algumas enzimas hepáticas no sangue , mas trata-se de uma circunstância rara com medicamentos que não seja a aspirina.
A utilização de esteróides a longo prazo em doses altas encontra-se associada a diversos efeitos secundários importantes. Entre estes incluem-se o enfezamento e a osteoporose.
Os esteróides em doses elevadas podem provocar um aumento acentuado de apetite, o que, por sua vez, pode levar a obesidade acentuada.
É, assim, importante ensinar as crianças a comer alimentos que possam satisfazer o apetite sem aumentar o consumo de calorias.
Quanto tempo deve durar o tratamento?
Deve durar enquanto os sintomas e a actividade da doença persistirem. A duração da doença é imprevisível.
Em alguns doentes, a artrite reage muito bem aos AINEs. Nestes doentes, o tratamento pode ser interrompido rapidamente, no espaço de meses.
Em outros doentes, com um curso mais prolongado ou agressivo da doença, é necessário tomar os medicamentos durante anos.
Então, a cessação completa do tratamento é apenas tida em consideração após remissão prolongada e completa da doença.
E quanto a terapias não convencionais/complementares?
Não existem provas de que qualquer terapia não convencional tenha efeito sobre as espondiloartropatias juvenis.
Por quanto tempo durará a doença?
O curso da doença pode ser diferente de doente para doente.
Qual a evolução da doença a longo prazo (prognóstico)?
Em alguns doentes a artrite desaparece rapidamente, necessitando de pouco tratamento num espaço de meses.
Em outros doentes, caracteriza-se por remissão periódica e recorrências. Por fim, em outros doentes, a artrite pode seguir um curso sem remissões.
Na grande maioria dos doentes, no início da doença, os sintomas restringem-se às articulações periféricas e à entese (tendões).
Com a progressão da doença, alguns dos doentes poderão ter envolvimento das articulações sacro-ilíacas e da coluna. Estes últimos doentes e aqueles que sofram de artrite periférica persistente têm um maior risco de lesões articulares na idade adulta.
No início da doença é impossível prever o resultado a longo prazo.
Continua...
Última edição por Susana Lopes em Qui Out 30, 2008 5:37 am, editado 1 vez(es)